quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Audrey Hepburn – alternativa com A. E vou te provar o porquê.


Quando se pensa em Audrey Hepburn, sempre nos vem à cabeça a mesma imagem graciosa, elegante e popular da atriz em seu clássico vestido preto em Bonequinha de Luxo. É natural que associemos a esta imagem, já enraizada no mainstream como ícone de estilo, a ser copiado até cansar. Mas quero propor outra visão desta atriz. Vamos ver o começo de seu estilo. Não vou aqui descrever a biografia (fascinante) da atriz, que está descrita com detalhes em muitos lugares. Quero me ater na pessoa e sua formação de sua identidade.

Meu primeiro contato com Audrey foi em uma revista Manequim, eu e meus 12 anos. Lá estava ela, não no clássico pretinho, mas em um belo vestido de noiva, campestre e ousado, até para os padrões de hoje. A inspiração rendera na minha mente. Eu queria aquele vestido anos depois, e me reclamaria por ter seios grandes, porque a silhueta dela ficava linda naquele vestido. Eu sei, coisas de menina. 

Eu usaria ele exatamente deste jeito, com o véu de lacinho e sapatilhas. Só mudaria a cor do buquê e dos detalhes - iria colocar preto, que tem branco demais aí hehehe

Ser uma grand femme, com voz sensual e atitudes ousadas, era o que se esperava de Hollywood na época de Audrey. Marlene Dietrich escandalizaria em usar roupas masculinas, Romy Schneider com seus papéis fortes. Audrey se lançou na carreira de atriz em uma época que as curvilíneas Rita Hayworth e Marilyn Monroe eram as grandes estrelas. Ser esguia, alta, poucos seios não era favorável; a fama de seu pescoço longo e os problemas que teve em sua carreira de modelo foram contados em várias biografias. Cabelos loiros enrolados, ou morenos compridos eram quase que regra. Neste contexto, a mulher brejeira, charmosa, meio mulher meio moleque, cheia de ideias próprias não tinha espaço.

E eis que surge Audrey. Diz a história que em 1952, viajou para a França para a gravação de Montercarlo Baby, e foi vista no saguão do hotel em que estava hospedada com o elenco pela escritora Collette. Naquele momento, Collette trabalhava com a montagem para a Broadway da peça Gigi, cujo papel-título ainda não tinha intérprete. Encantada com Audrey, decidiu que ela seria a sua Gigi. Gigi era a própria Audrey (ou seria o contrário?): confortável em sua pele, sapeca, charmosa e revolucionária em seu pequeno mundo gigante.

A partir de Roman Holiday, filme que lhe traria um Oscar, todas queriam imitá-la, ter seu estilo, certo? Errado. Audrey não era um estilo, não tinha definido ainda suas marcas registradas. A única que de fato lhe pertenceria até aquele momento foi seu cabelo curtinho, ao ponto de Audrey cansar de dar entrevistas explicando porque decidira cortá-lo. Desconfio que foi por causa de seu pescoço – cabelo comprido chamaria a atenção para ele, cabelo curto chamaria a atenção para o rosto. Só por isso já considero uma atitude revolucionária, uma alternativa aos cabelos de sempre.



Audrey em seus dois casamentos. O cabelo curto se manteve, bem como a preferência por comprimentos que mostrassem os pés.

Audrey não queria nomes conhecidos na moda para seu figurino em Sabrina. Foi atrás de um homem nada conhecido até então – Givenchy – que a confundiu com Katherine Hepburn, outra atriz. Ela não se ofendeu, o que já era notável vindo de uma ganhadora de Oscar. Depois diria Givenchy que este engano seria o melhor se sua vida, pois Audrey era única e inspiradora, um ser humano autêntico. Givenchy percebeu que roupas apertadas e cheias de detalhes tirariam todo o charme de Audrey, restrigindo-a. Conforto e liberdade eram a ordem. Em tempos de saias com vários metros de tecido e casaquetos com seios estruturados a Dior, ele soube visualizar seus traços corporais. Ao invés de sumir com seus quadris, soube aproveitar sua silhueta em vestidos estruturados próximos ao corpo. Chapeus marcantes aproveitavam seu rosto tão marcante e seu pescoço longo, bem como lencinhos e os óculos grandes. Calças justinhas de bom corte, com comprimento pela canela, permitiriam a Audrey não depender dos saltos altos e usar sapatilhas. Audrey usava este estilo, mas deu seus próprios toques. Conhecedora de seus traços faciais marcantes, sabia que seus olhos eram o seu forte. Nuances masculinas também podiam ser observadas – blazers, gravatas, suéteres e sapatos de cadarço. Acessórios diferentes, pouco usuais (você casaria de curtinho e lenço na cabeça?). Decotes eram estudados a dedo, para realçar seus ombros e não seus pequenos seios. Popularizar as camisetas simples e o look monocromático preto - traje inspirados nos beatniks - em Cinderela em Paris foi obra dela e do estilista. E sobretudo a postura, altiva e receptiva, contribuiria ainda mais para seu estilo. Passou a ser referência, inspirando outras famosas da época (sempre que vejo Jackie O., percebo isso).



O salto estilo Sabrina foi fabricado pensando em Audrey, que o popularizou no filme de mesmo nome. A atriz tinha os pés relativamente grandes e preferia usar sapatos confortáveis.

Se pensarmos bem, Audrey era uma alternativa com A dentro de Hollywood. Ela impôs seu estilo. Quando pesquisamos roupas da década de 60, nos vem sempre aquele traje pin up, rockabilly, a lá Marilyn. Muitas vezes aparecem "vestidos a la Audrey", o pretinho que ficou tão popular. Não vemos as roupas do cotidiano de Audrey – vemos sua maquiagem, que foi copiada a exaustão. Os trajes de Audrey nos remetem aos anos 2000, anos de recuperação da elegância feminina e prática depois da masculinização dos anos 80 e 90. Isso é ser revolucionária. 

Se seu estilo caiu no mercado comum, foi porque, como tudo que é inovador, o mainstream a absorveu. Sua força é tão grande, que até hoje seu nome figura entre os grandes destaques, junto com estilistas como Chanel e Dior. E ela não era estilista! Era apenas uma mulher com vida comum, querendo usar algo que fosse confortável. Ela tinha uma noção incrível do que queria; e usou sem ligar para mais nada. Chanel já tinha convencido o mundo do poder do vestido preto. Mas Audrey o elevou a outro patamar, mostrando-o 2 vezes no mesmo filme (Bonequinha de Luxo)! Até então não era uma roupa para o dia a dia. E ainda ela usa com um casaco militarista (o trench coat) e maria-chiquinhas! Só ela poderia! Por fim, ela foi uma atriz que soube envelhecer. Sabemos como a pressão sobre as mulheres com o passar dos anos aumenta; cremes, cirurgias, laser... Pois Audrey não se deixou rotular. Teve a coragem de dizer, em plenos anos 80, que a mulher fica cada vez mais bela à medida que o tempo passa. E, para ela, nada mais faria tanto sentido. 

Isso que ser alternativa – no estilo e na atitude!


Sapatos de saltos baixos, trench coat e maria-chiquinhas no resgate do gato em Bonequinha de Luxo.

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Aham, roupas de vinil!


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Uso de meias com mocassins. Audrey gostava de conforto. Sapatos como estes lhe agradavam muito.


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Simples e elegante.


Um toque masculino com o paletó e a gravata borboleta.
A boca de Audrey era linda, mas os olhos...caramba!!!


heheheheh 


Bermuda e paletó


O traje que inspirou mulheres no mundo inteiro: calças sequinhas e blusas simples.

  
Audrey já com mais idade, mostrando que uma mulher segura de si é muito mais linda e sexy que uma mulher retocada com muito botox e cirurgias!

E você? Também acha que Audrey foi uma alternativa com A, ou acha que eu estou achando demais? Comente!

Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.

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