quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Os vícios aceitáveis

Todos somos viciados, ouvi de alguém a muito tempo atrás. O motivo da afirmação: se perguntar a alguém, qualquer um dirá que não consegue viver sem alguma coisa, seja música, chocolate, cinema, sexo...

O engraçado é que usamos o termo vício para muitas coisas. Mas vícios são doenças.

Vício segundo a Wikipédia "é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Seu oposto é a virtudePorém, em termos genéricos, é interessante a abordagem de Margaret Mead: “A virtude é quando se tem a dor seguida do prazer; o vício, é quando se tem o prazer seguido da dor”. Faltando porém, um detalhe: os períodos onde a dor e o prazer se inserem variam, sendo que o segundo é sempre mais longo e permanente que o primeiro, em ambos os casos." 

Os vícios são divididos em físico, quando a pessoa apresentará sintomas de desabituação quando deixar de usar a substância. comportamental, quando a pessoa viciada provavelmente terá um histórico de ter tentado parar de usar a substância (ou mudar o comportamento) sem muito sucesso. Os sintomas incluem : transpiração, problemas para dormir, agitação física, ansiedade, atitude agressiva e humor alterado.  

Existem vícios hoje que muitas vezes são negligenciados ou até mesmo aplaudidos. Vício em acessar a internet, em tirar fotos e postar, em comprar, em discutir via virtual, em beber, em fumar...

Eu aprendi com a vida, vendo amigos meus se destruírem por causa de drogas pesadas, que o vício não é aquilo que aparece nos filmes: o rapaz começa a deixar de tomar banho, vira ladrão, bate nos outros, tudo por droga. Este estágio é o fim de uma linha longa, que muitas vezes passa despercebida. Conheço viciados que trabalham. Conheço viciados que estudam. Conheço viciados que são casados, tem filhos. 

Vício para mim, depois de conhecer viciados, se tornou a falta de controle em alguma coisa; não interessa se ela faz bem ou mal. A partir do momento que você é controlado por aquilo, você se tornou um viciado. Não faz diferença se é álcool ou internet: se você viaja e não consegue se conectar, e fica nervoso por causa disso, está apresentando sintoma de abstinência.

O problema, no meu ver, é que certos vícios foram banalizados, eles se tornam problema quando causam prejuízo grande. A menina que deixa de comer por estar tão fissurada na net; o rapaz que não sai do jogo nem para tomar banho ou escovar dentes; a mulher que entra todo dia para namorar lojas virtuais, pensando como esconder do marido; o homem que só faz churrasco no domingo se tiver cerveja; os grupos que se juntam para discutir com alguém pela net todos os sábados.

Não estou dizendo que internet, jogos, compras, discussões e cerveja são ruins. Não são. A falta de controle que é. Não conseguir dizer "não" é vício. Se uma pessoas não consegue conceber seu fim de semana sem alguma coisa, já começo a desconfiar. Todos que me conhecem sabem que sempre digo "negação é sempre o primeiro sintoma". Não admitir é um dos fatores que mais via em viciados.

Eu trabalhei no meu estágio com um viciado, quando fiz parte de um trabalho voluntário. Ao meu redor tinha muita gente que fumava maconha, usava cocaína, LSD e todo mundo sabia. Era terrível porque ele já estava num estágio bem desgastante, onde ele me ligava em qualquer horário, se descontrolava fácil. O caso dele foi bem grave. Mas me mostrou os meus próprios vícios.

Eu sou viciada em chocolate. Eu era terrível: já saí de madrugada para comprar. Ficava louca se não tinha em casa. Doce para mim era só com chocolate. Comia de manhã, de tarde, de noite. Trocava refeições por ele. Isso é vício, puro e simples.

O vício me acertou em cheio quando comecei a suspeitar que tinha Síndrome do Intestino Irritável (que depois se mostrou problemas com glúten). Eu tive de cortar todos os alimentos com açúcar refinado, gordura, leite. Chocolate só em pó, e só com leite de soja. Sem açúcar.

Foi um inferno. Eu tinha sintomas físicos - dores de cabeça, humor intragável, na TPM arremessei copos no meu ex. A médica que me atendia teve que me dar remédios para controlar meu temperamento, e só assim aguentei 6 meses sem ele, até parar de ficar louca.

Quando pude voltar a comer, eu tinha ajudado o viciado de quem falei acima. E já tinha consciência do que tinha acontecido e do controle rigoroso que deveria ter sobre o chocolate. Sabia que não poderia transferir para outra coisa. Sabia que ia ter de ficar de alerta. O pior que eu comentava sobre este meu vício e as pessoas acham graça. Ignoravam que quebrar coisas, discutir com pessoas, sair de madrugada era perigoso, e portanto este comportamento não era saudável.

O mais maluco foi que comecei a ver os sintomas deste meu vício em outras pessoas, mas de formas diferentes. Compras, p.e. Pessoas que saem e não voltam sem sacola. Não conseguem sair para conversar, precisam entrar e comprar, nem que seja uma lixa de unha. Ou pessoas que sacam seus celulares e saem loucamente pelo Insta e Face, te deixando sozinho na conversa, sem conseguir desligar.

Será que o mundo anda tão louco assim ou eu estou vendo demais?

Querer é poder, já se dizia. Mas quando querer tanto deixa de ser poder e vira escravidão?

E o que mais me enlouquecia era sair na galera alternativa, ver a pessoa se viciando e a discussão começar: alternativos podem ser drogados. Podem ser alcoólatras. Podem ser ninfomaníacos. 

O uso de drogas, álcool e outros temperamentos de abuso são mais aceitos quando a pessoa é alternativa?

Mais pensamentos sobre isso no próximo post.

Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.


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