domingo, 23 de novembro de 2014

O pré julgamento que não queria ter

Eu tenho 31 anos. Casei a pouco tempo. Passei boa parte da vida morando sozinha. E sempre curti.

Por morar sozinha durante a universidade, muitas vezes fui tratada como uma mulher fácil e promíscua, que tinha uma vida sexual completamente descontrolada e sem nenhum critério. Parece que na cabeça de muitos um universitário (ou universitária) que não divide apartamento com alguém é alguém que quer bagunça, seja para fazer festas loucas, seja para levar lá a maior quantidade de parceiros que conseguir. Não passa pela cabeça que a pessoa precisa da solidão para se sentir bem.

Entretanto, a medida que o tempo ia passando e os anos também, as cobranças começaram a ficar diferentes. Não era mais "você mora sozinha? vamos aproveitar e fazer bagunça!" para "você mora sozinha? não quis se amarrar?". Depois de uma certa idade, um preconceito velado e sinistro começa a tomar conta: de que você está passando da idade de casar, de formar família. Apesar de ter tido mudanças - agora as mulheres vão para universidades, então a idade "aumentou" - a pressão ainda é enorme.

Mas eu não dei bola. Nunca liguei. Sabia que deveria me amarrar com alguém com quem realmente partilhasse interesses, não por estar passando da idade. Se por um lado é cruel pensar na mulher tendo filhos somente até certo ponto da vida, por outro lado se unir a alguém por desespero é tão cruel quanto.

Entretanto, existe um preconceito ainda mais velado, e mais danoso, que não é discutido, que passa por pena. O preconceito contra quem está solteiro depois dos 40.

Seja por ter se casado e se divorciado, seja por não ter encontrado alguém, seja por simplesmente querer ficar só. As pessoas sozinhas, homens e mulheres, sofrem estigmas terríveis.

Quando assisti ao filme Clube das Desquitadas, eu vi uma cena que me tocou fundo. A personagem de Bette Midler está enfrentando um divórcio, e vai jantar sozinha em um restaurante cheio de famílias. Assim que ela se senta, o garçom pergunta se ela está sozinha, e diante do sim, começa a tirar os talheres e o prato do outro lugar da mesa, que está vazio. O estardalhaço na cena constrange a personagem - e a mim também. Porque já ouvi dúzias de histórias iguais a estas.

Mulheres indo sozinhas a um restaurante e o garçom não lhes atendendo porque esperava a companhia dela chegar.
Homens em bares sozinhos bebendo e as piadas do "abandonado no fundo do copo".
Mulheres indo sozinhas ao cinema e homens tratando-as como lixo, mandando-as trocar de lugar porque estavam sozinhas.
Homens indo sozinhos a uma floricultura e a atendente perguntar "é para sua esposa?", e na negativa a mulher concluir que o homem era gay.

O pior é que eu tenho este sentimento amargo dentro de mim também. Quando vejo um homem sozinho jantando, de idade acima dos 40, penso "será divorciado? tem filhos? tem amigos? por que está sozinho?". Não passa na minha cabecinha que ele está sozinho por opção. Eu fico com pena, com dor no coração, sentindo uma tristeza enorme...Sem nem pensar que talvez seja opção.

Talvez isso acontece porque ouvimos muitas histórias de pessoas deprimidas por se sentirem sozinhas. Nossa sociedade cobra tanto que tenhamos pessoas o tempo todo a nossa volta, que quando uma pessoa não está com alguém, ela é obrigada a se sentir deprimida, um párea da sociedade.

Em muitas subculturas, a solidão é vista como um refúgio da sociedade opressiva que vivemos, um lugar onde podemos ser nós mesmos. Acho que por isso tantos se identificam. Por que simplesmente não podemos aprender a nos sentir confortáveis com nós mesmos? É legal compartilhar a vida com alguém, mas não é lei ou obrigação!

Eu não admito preconceito, e chego ao ponto de me punir por também pensar deste jeito, de ter este estigma com o solteirismo. Com tantas questões importantes no dia a dia para lidar, é justo que as pessoas sozinhas carreguem mais esta? Não posso olhar para a pessoa sozinha no bar e pensar "uma pessoa sozinha" e ponto? Querer conhecer não por pena da solidão, mas por interesse na pessoa?

O que mais me assusta é que nas subculturas tem gente que usa as escolhas da pessoas como justificativa para jogar pedra. "Tu tá sozinho porque escolheu ser punk!", "Teu visual não atrai os góticos, porque você não tem cabelão!", "Sua forma de pensar é que mantém as pessoas longe de você dentro da galera!". Se alternativo sofre preconceito, imagina alternativo solteiro com mais de 40 anos! Argumentos vem de todos os lados, ninguém pára para escutar. Alguém pára e pensa que a pessoa é mais que um alternativo solitário, é apenas uma pessoa que gosta de ficar só?

Eu recomendo a leitura deste texto e deste aqui. Quem tiver mais sugestões mande nos comentários, vou curtir muito.

Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.

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