sábado, 9 de janeiro de 2016

Por que amamos o mal encarnado em forma de mulher?

Estava eu assitindo aulas online de corte e costura (falarei mais a respeito futuramente) e me vi pesquisando, na minha enorme pilha de revistas de moda. As pilhas são beeeeeeem grandes mesmo: cerca de 150 revistas dos anos 90 e dos anos 2000 (até 2009), quando a moda costumava ser mais ousada, menos rígida, menos ditatorial em suas revistas.

Dentre as várias que tenho, muitas tem referências a personagens de novelas, porque estas lançaram tendências. E comecei a notar que, todas as vezes que encontrava uma peça que me agradava, era de um figurino de vilã. Raríssimas vezes era roupa de mocinha - e quando era, era num momento fúnebre ou sombrio.

Eu passava minhas férias com a minha avó, e assistia muita novela. Ela é tarada por novela: assiste as reprises, todas as novelas do horário nobre, e se tiver alguma passando depois em outro canal, ela dá uma espiada também. Ela é uma típica "escrava do PlimPlim". Com isso, eu acabava ajudando-a nas tarefas da casa e acabava assistindo junto. Com isso, vi muita novela, até meados de 2002, quando eu já passava minha férias trabalhando. A última vez que vi, foi quando estava no hospital: as mulheres que estavam no mesmo quarto que eu adoravam novela...Estava passando Da cor do Pecado e Lado a Lado (esta última, por sinal, foi uma das poucas que assisti toda e gostei).

Definitivamente, sou noveleira enrustida, graças a minha avó (saco!).

As roupas das vilãs tem características muito peculiares. Na maioria, vemos muita cor escura, linhas retas e angulares, modelos justos, uso de materiais mais brilhantes - couro, veludo, vinil... - combinados a acessórios grandes. bolsas poderosas, sapatos classudos e maquiagem marcante. Exatamente tudo que amo em visual!

À medida que o tempo foi passando, quando eu ia visitar minha vó, ela me mostrava a vilã e eu levava um susto: cadê a roupa preta? O femme fatale? Começou com a Flora de A Favorita de 2008:

Começo da novela: roupas sem toques de preto. A ideia da figurinista, eu soube, foi fazer o público ficar na dúvida sobre quem de fato era a assassina.

Mas depois que ela se revela...
Abre alas que o preto está na área.

E culminou com a mesma atriz encarnando D. Constância, de roupas claras e ar de bondade:
Constância em 1904 e depois, em 1910 (Foto: Lado a Lado/TV Globo)
Esta bisca me fez passar muita raiva no hospital Vilã boa = vilã dissimulada.

Aí fui lembrando das vilãs que, de alguma forma, tive contato com o visual e cujo estilo eu gostava bastante:

Tia Laura mostrando que as cachorras arrasam na coleira, em Celebridade;

Deodora em Tempos modernos = amor total. Não é a toa que tem muiiiiiita foto dela aqui.

Barbara mostrando que o racismo não compensa, em Da Cor do Pecado

Elizabeth mostrando que as freiras tem estilo, em Pé na Jaca;

Leona em Cobras e Lagartos (jaquetas lindas!)

Priscila, a neonazista de Vitória (na Record): totally bitch!

Silvia de Joia Rara, muito estilosa!

Nazaré fazendo escola e mostrando a importância da auto estima em Senhora do Destino

...

Margot em I love Paraisopolis: cadê o sutiã no trabalho, menina?

Alguém avisa a Verônica (em Cama de Gato) pra deixar um pouco de beleza pra gente?


Mas enquanto olhava tanta foto, me peguei em uma dúvida. Afinal, por que gostamos da vilãs? Não deveríamos odiá-las? Rejeitá-las? Então por que lembramos delas e não das mocinhas? De algumas, lembramos até o sobrenome na trama, mas não conseguimos lembrar o que comemos ontem!

Não é só o visual. É a postura, a ousadia, a gana de querer algo a todo custo. Conforme Aguinaldo Silva falou uma vez: "A mocinha está cada vez mais aprisionada dentro dos limites do politicamente correto. Se a coitadinha se sentar com as pernas descruzadas, já sofre rejeição. Assim, a vilã, que não conhece limite, torna-se cada vez mais interessante quanto menos é politicamente correta. "

Ou seja, gostamos das vilãs porque elas não são estão presas a correntes da moral. Elas fazem e acabou. Elas ditam novos padrões. Algumas acabam sendo idolatradas porque o público se identifica com elas: afinal, que mãe não iria até as últimas consequências, que nem D. Constância? Acontece uma projeção, um "colocar-se no papel da ficção". Outras chutam a sociedade para longe, e colocam para fora o que é imoral, caso da Bárbara, que não escondia ser racista. Elas falam o que muitos de nós pensamos, mas não expressamos. Podemos ser processados, rechaçados, perder nossos admiradores e amigos. Então não falamos. Preferimos nos esconder sob a máscara de bondade. Isso mostra que o mau anda de mãos dadas com o bem muitas vezes. Não a toa, Shakespeare colocava o vilão para falar sozinho e confessar suas maldades ao público, ao invés de declarar-se o algoz, de maneira explícita. A fórmula fez um sucesso universal, até hoje.


E tem mais. Se antes a vilã queria ser a esposa de alguém, hoje ela quer ser este alguém. Ela não quer o homem, ela quer a posição hierárquica dele. Mas percebam uma coisa: raramente vemos uma mulher ir contra um homem, de maneira aberta e declarada, nestas tramas. É mulher contra mulher, com ou sem apoio do homem afetado pela vilania. Raras vezes vemos um mocinho, e não conseguimos recordar, aqui em casa, de um mocinho que se levantou sozinho contra uma mulher. Um homem ser vítima de uma víbora não faz tanta audiência, faz? Será? Lembram do filme Assédio Sexual e a polêmica que deu?

E aí entra uma teoria minha: é muita mais fácil colocar mulher fazendo maldades explícitas, invocando a história do Pecado Original, sobretudo contra outras mulheres. As mulheres se identificam porque querem ser a vilã - livres, desimpedidas de amarras. Mas quem faz isso é a vilã. A mocinha, quando faz isso, é rejeitada pelo público (na UTI assistia Salve Jorge e quando via a personagem Morena, já sabia que ia dar problemas para o autor. Pedia para desligarem a Tv). As mocinhas são aquela sementinha plantada na cabeça de nossas meninas: sempre seja boazinha, abra mão do que você deseja pelo que a sociedade prega como certo. Aceitam as maldades como vítimas, e podem até lutar por justiça, mas sempre a sombra de uma razão forte (o marido, o homem amado, os pais, os filhos, a empresa da família, etc.). Se alguém lembrar de alguma mocinha que se viu contra a vilã apenas por sua própria honra, me avisa por favor.

É muito fácil colocar as mocinhas como boas meninas, que são educadas e quietinhas, e passam a ideia de normalidade. Ser bonzinho é a lei da nossa sociedade, e que forma melhor que ser igual as mocinhas? Só que esta fórmula está cansando. Não somos mais mocinhas quietinhas. Somos mulheres com sede de vitória, que estão dispostas a lutar por igualdade e justiça. Seja contra homem, mulher ou empresa. Temos sonhos, alguns de grandeza sim, e vamos atrás. 

Ser a mocinha hoje é politicamente correto, mas francamente é muito chato. Mas ser vilã não é legal também. Exceto pelo visual :D

E para finalizar, deixo uma vilã que foi o ápice. E é amada até hoje:


Beijos!
Fonte das imagens: Google

2 comentários:

  1. Sou a mistura de Paola Bracho com Natascha de Vamp , as novelas brasileiras eu não gosto ( tirando Vamp que é ótima) ,mas amo as da Televisa , aquilo sim é novela , lembrei da Cristina da novela Alma Gêmea , ela usava roupas claras para dar um ar de pureza e era loira , resumindo quem iria desconfiar dela ? As roupas dizem muito sobre as pessoas ...

    http://jessicavenenoofficial.blogspot.com.br/

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    1. Realmente Jés, as roupas podem representar muito o pensamento ou intenção de alguém. Por isso a cultura de moda não deve ser desprezada.
      Beijos linda!

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Adoro comentários e críticas construtivas!

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