terça-feira, 26 de abril de 2016

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Flores do mal

Decidi escrever de novo.
Mas não vou justificar agora porque dei um tempo aqui. Não estou com vontade de fazer isso. Aqui sempre foi meu espaço libertador, e dar explicações é muita prisão auto-imposta. Faço isso aos poucos.
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(Enquanto escrevo ouço Flores do Mal - Legião Urbana)

Ontem comprei um buquê de flores para minha chefe. 

Acho engraçado quando vejo pessoas com flores no colo. Normalmente, quando vejo um rapaz, invejo a pessoa que vai ganhar aquelas belezas. Quando vejo uma garota, penso sempre em como ela reagiu ao ganhar as flores. Lembro de passar por uma moça uma vez com uma cestinha cheia de flores, apressada, de uniforme, com uma expressão nervosa no rosto. Fiquei pensando se ela tinha gostado das flores, ou se aquelas flores eram dela ou eram a outra pessoa.

Ontem, enquanto andava com as flores, as pessoas pararam para olhar. Algumas crianças disseram que eu parecia uma princesa sentada, esperando com flores no colo. É engraçado ser o centro de atenções quando as flores não são suas, mas são para alguém que você gosta muito.

O que acabou me abrindo uma ferida a muito cicatrizada.

Foram poucas as vezes que ganhei flores. Eu ganhei do meu pai quando "virei mocinha", aos 12 anos (achei fofo, mas na época morri de vergonha, sabe como é). Depois ganhei quando me formei no Ensino Médio (meu pai de novo), e na minha formatura (meu avô). 

De namorado? De um ex namorado, ganhei depois que terminei com ele. ele tinha sido extremamente agressivo comigo, eu terminei o namoro. De tanto medo que ele me causou, eu não queria nem ver. Ele resolveu me impressionar levando rosas vermelhas e um perfume para mim, na faculdade. Todo mundo achou o máximo, mas eu não. Nem levei as flores para casa, deixei com as secretária.

"E mentir é fácil demais".

Eu já tinha cansado de dizer a ele que eram atitudes ANTES de cometer erros que levavam ao perdão. De nada adianta presentear com flores, se a mão que as trouxe se ergueu para bater no rosto? De querer abraçar o corpo, mas machucar o coração com palavras duras?

"Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás"

Que adianta se ajoelhar e dizer que ama, se na hora que planejou morar junto deu para trás e deixou todas as contas em aberto, as dívidas na mão de quem confiava? De falar uma coisa e depois falar outra, alegando "não querer magoar", mas afirmando que não ia se repetir porque " a gente vai ficar junto para sempre"?

O mais dolorido para mim é que nunca mais recebi flores desde aquele dia. Nem colhidas de praça. Nenhuma veio pelo ímpeto de querer me fazer sorrir. Como se eu não fosse merecedora de gestos românticos, de romance e palavras de paixão sincera. E ae comecei a dizer que não gostava de flores em buquê porque cortavam as coitadinhas, que prefiro flores em vazo (eu tenho dó, sim. Mas tenho dó da minha alma iludida também, ora).

Não. Simplesmente para mim, não há mais espaço, mas há vazio e a falta. 

Para que pedir minha mão em casamento com uma situação romântica?
Para que presentear no aniversário com alguma surpresa doce e fofa?
Por que lembrar de mim quando vê o Sol refletir nas águas de um lago tranquilo?
Para que ser romântico comigo, afinal?

Para todos os meus ex, só um recado. E para toda mulher e homem que economiza em romance, que se pergunta se deve, se não vai fazer papel de trouxa.

Por vocês mesmos. Façam por vocês mesmos. Não façam para pedir perdão, para provar que podem, para provar que a pessoa errou.

Não leve flores do mal em seu colo. Você não merece fazê-lo.


sábado, 30 de janeiro de 2016

Cyberpunk e seus filhos - steampunk, dieselpunk, e outros (parte 9)

Depois de falar de muitos estilos dentro do gênero Cyberpunk, vou falar hoje do gênero mais famoso: o Steampunk.
Que amo demais, diga-se de passagem.

Steampunk é um subgênero da ficção científica e às vezes fantasia que incorpora tecnologia e design de estética inspirados pelo século 19 e por maquinas a vapor. Apesar de suas origens literárias serem associados às vezes com o cyberpunk, obras steampunk são muitas vezes criados em uma história alternativa do século 19 britânico (era vitoriana) ou no Oeste Selvagem americano, ou em um pós-apocalíptico, durante o qual o poder de vapor tem mantido o uso, ou em um mundo de fantasia que emprega de forma semelhante o poder de vapor. Steampunk pode também incorporar elementos adicionais dos gêneros de fantasia, horror, ficção histórica, história alternativa, ou outros ramos da ficção especulativa, tornando-se muitas vezes um gênero híbrido. 
Chegando até a música (de grupos como Abney Park ou Dresden Dolls), alcançando programas reality-show e até animes, o Steampunk é um gênero altamente cultuado e respeitado no Brasil. Temos ótimos livros brasileiros, alguns referenciais internacionais: as coletâneas “Retrofuturismo” (2013) e “Vaporpunk” (2010 e 2014); “O Baronato de Shoah” (2011), “Homens e Monstros” (2013), "Steampink” (2012), “Le Chevalier e a Exposição Universal” (2015), a coletânea “Dystopia” (2013), “Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário”, “Deus Ex Machina- Anjos e Demônios na Era do Vapor”, e o projeto multimídia de Bruno Accioly, “Crônicas Póstumas”, que tive oportunidade de ler o começo e já apaixonei de cara. Adoro Machado de Assis e a proposta é mexer com os personagens do consagrado autor, em uma visão steampunk. Recomendadíssimo!


Filmes temos: As loucas aventuras de James West, Steamboy, A Liga Extraordinária, De Volta para o Futuro 3, e muitos outros. Eu poderia encher de fotos aqui de visuais steampunk. O mundo é vasto e permite releituras diversas. Mas quis colocar aqui uma situação especifica, que aqui no Brasil é ainda feita com bastante tradicionalismo e muitas vezes certas rigidez: o casamento. Então vamos admirar a criatividade dos casais:
1
2

3

4

Casal muito lindo!!! 5

Como usar este estilo no ambiente corporativo?
Por mais que não pareça, o Steampunk é fácil de referenciar em trajes mais sóbrios. Basta usar tons e elementos característicos. Aqui, fiz 3 propostas: um casual day (informal mesmo!), uma proposta mais fechada, com peças plus size, e uma terceira para ambientes bem formais:

Steampunk in office conception - casual day, plus size and formal



Gostou? Usaria? Comente!

Referências:
http://www.terravermelha.com/e_revista/53/a-literatura-fantastica-da-serie-brasiliana-steampunk
http://brasilianasteampunk.com.br/
http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/07/santa-maria-desponta-como-o-motor-gaucho-do-steampunk-4811559.html
http://revistabang.com/2013/11/27/o-steampunk-no-brasil/
http://www.facta.art.br/ciencia-do-apocalipse/steampunk-um-olhar-sobre-o-futuro-do-preterito/

sábado, 23 de janeiro de 2016

Em 2015 eu vesti...

...um monte de roupas que não coloquei aqui (hehehe).

Estou tentando me animar mais desde que 2016 começou, porque tem sido um ano cheio de promessas, mas muitas perdas e coisas sinistras andam acontecendo.

Aí lembrei que não tinha colocado os looks de fim de ano, de Natal nem Ano novo...Então vamos a eles!

Calça preta, blusa preta com decote coração, bolero vermelho vinho, colares: pingente egípcio, obsidiana, mandala preta, brincos pretos, anel pintado com esmalte prata, braceletes amor 1 e 2, anel de pedras vermelhas, sapatilhas preto e branco. Batom marrom matte.

Blusa preta, saia longa vinho, sandália gladiadora, mix de pulseiras, brincão preto. Batom marrom matte de novo.

Casamento de uma amiga. Como era em uma igreja bem tradicional, resolvi usar uma roupa mais fechada. Comprei um vestido chinês vermelho, muito lindo... Que rasgou inteirinho!!! A lateral embaixo do braço e na outra lateral, só que na perna! Tive de me cobrir toda para ir embora, e sorte que estava frio, porque usei uma meia opaca preta e consegui disfarçar. Estava de batom vermelho, pulseira combinando, bolsa que na verdade era um porta jóias, todo mundo comentou que estava diferente e bonito. Aí voltei para casa, peguei um vestido que estava lá de bobeira, de veludo roxo. Coloquei uma gargantilha emprestada, de cristais. Não fiquei tão feliz, mas era o que tinha a mão. A foto que aparece aqui foi feita depois do jantar. 
Uma diferença de algumas horas, e eu levei um choque: como fiquei acima do peso por causa do tecido! Fiquei chocada!

No Natal: vestido preto, pulseira que ganhei de Natal, anéis que ganhei também, sandália gladiadora, e meu cabelo comprido ainda. Batom marrom ultra escuro, lápis de olho preto e amarrei o cabelo na lateral.
Aconteceu uma situação engraçada: minha mãe me deu um vestido para usar no Natal. Vesti, me arrumei, mas não conseguia ficar natural. Não era eu naquele vestido. Acabei dando para ela e coloquei um pretinho. Só lamentei que ele estava muito decotado e causou climão.


Fim de ano: vestido branco, pulseiras e gargantilha de renda, que depois troquei pela de sempre, anel novo, cruz com pedra preta, e...Tatuagens! Não, não são definitivas. São falsas. Mas foi bom para estudar possibilidades. Sempre recomendo que quem tem dúvidas use tattoos falsas, o que evita passar raiva depois. 
Se não se lembram ou não viram, este vestido usei em minha cerimônia de casamento civil. Eu uso de novo, não por ser fim de ano, mas porque não gosto de deixar peças paradas no armário. Como branco eu só uso neste época do ano mesmo...
Ainda tava de cabelão...e estava mais parecida com quem era há uns 5 anos atrás, o que não me agrada por ser uma época de indefinições. Então...

Ah bem melhor hehehe. Batom azul e cabelo novo!

Quem gostou comenta!
Beijos!


domingo, 17 de janeiro de 2016

A morte de um cão e por que mudei o jeito de ver a vida

Hoje finalmente consegui dormir, e escrever aqui.

Há dias que olhamos para o céu, se perguntando se tem alguém lá olhando. Outros dias, fazemos coisas nas quais a alma se machuca e se envergonha, e olhamos para cima pensando que, se tem alguém lá, que nos perdoe.

Dia 11 morria David Bowie. Estava lamentando a morte do artista, chorando, quando ouvi um baque surdo e um choro agudo de um cão. Corri e vi um cão gritando após ser atropelado, e um rapaz tentando impedir que um caminhão ceifasse a vida do bicho de vez. Minha mãe gritou tão alto que acho que até no céu ouviu-se, pois o caminhão freou na última hora possível.

Tiramos o cão debaixo do caminhão, com cuidado. O sofrimento e os lamentos nunca vão me deixar. Ele acabou mordendo minha mãe quando fazia carinho nele, mas depois pareceu pedir desculpa, ao olhar para ela. Bowie. Batizamos assim.

Levamos a vários veterinários. 3 dias de agonia. Cachorro evacuando e tossindo sangue. Bicheiras nas feridas. Não comia, não bebia, avançava com medo quando íamos dar banho. Mas pedia carinho, e sobretudo, que aliviássemos sua dor. Remédios. Muitos. Não faziam efeito.

As contas se multiplicavam. 500 reais só em raio X, remédios, veterinário. Sei que estão fazendo seu trabalho e que precisam comer. Mas um mísero curativo? Não. Uma ajuda para lavá-lo? Não. Recomendações que podíamos ir numa agropecuária comprar remédios em spray ao invés de injeções que não conseguíamos dar? Não. Tinha que ter dinheiro. A ganância é mais forte que a ética ou a piedade. Pagaria o que poderia, não me nego. Mas não 

Liguei para tudo quanto era lugar. O bichinho nos olhava num misto de dor, pedido de misericórdia e agradecimento. Chorei tanto na frente da última veterinária que saí sem voz e com o rosto assado, de tanto esfregar papel. Nada.

Enfim apareceu um amigo disposto a ajudar. Veio segurá-lo para medicar. O remédio para dor conseguimos dar. O comprimido para os demais problemas, não foi possível. Bowie nos olhou com tristeza, começou a se espichar todo e se despediu de nós. Implorei a quem estava lá em cima, olhando, que o levasse sem dor. Deixasse a dor física dele na minha alma, para poupá-lo de um mundo cruel demais. 

Por que insisto em ajudar? 
Por que lembro da letra de Índios, do Legião Urbana: 
"Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente.
Tentei chorar e não consegui".

É pelo mundo doente. Eu adoeço com o mundo, quando produzo muito lixo, quando viro o rosto para o sofrimento do pedinte, quando me pedem ajuda para cuidar de bichinhos, quando compro algo supérfluo sabendo que tanta gente precisa...a culpa na alma me olha no espelho, e ela sim chora. Que mundo estamos deixando? O que pensam aqueles que estão olhando lá de cima? O mundo mudou tanto aos meus olhos depois disso que nem sei mais o que quero escrever aqui.

E como homenagem ao Bowie cantor e ao Bowie canino, aos verdadeiros heróis que todo dia mudam o mundo com ações de bondade e misericórdia, ações de coragem que não aparecem na Tv, uma de minhas músicas mais queridas:



Heróis

Eu, eu gostaria que você pudesse nadar
Como os golfinhos, como os golfinhos podem nadar
Embora nada, nada vai nos manter juntos
Nós podemos vencê-los, para todo o sempre
Oh, nós podemos ser heróis, apenas por um dia

Eu, eu serei rei
E você, você será rainha
Embora nada os afaste
Nós podemos vencê-los, apenas por um dia
Nós podemos ser heróis, apenas por um dia

E você, você pode ser mau
E eu, eu vou beber o tempo todo
Porque somos amantes, e isso é um fato
Sim, somos amantes, e isso é que

Embora nada, nos mantenha juntos
Nós poderíamos enganar o tempo, apenas por um dia
Nós podemos ser heróis, para todo o sempre
O que você diz?

Eu, eu gostaria que você pudesse nadar
Como os golfinhos, como os golfinhos podem nadar
Embora nada, nada vai nos manter juntos
Nós podemos vencê-los, para todo o sempre
Oh, nós podemos ser heróis, apenas por um dia

Eu, eu serei rei
E você, você será rainha
Embora nada nos afaste
Nós podemos ser heróis, apenas por um dia
Nós podemos ser nós, apenas por um dia

Eu, eu me lembro (eu me lembro)
De pé, junto à parede (na parede)
E as armas, disparou acima de nossas cabeças (sobre nossas cabeças)
E nós nos beijamos, como se nada pudesse cair (nada
Poderia cair)
E a vergonha, estava do outro lado
Oh nós podemos vencê-los, para todo o sempre
Então poderíamos ser heróis, apenas por um dia

Nós podemos ser heróis
Nós podemos ser heróis
Nós podemos ser heróis
Só por um dia
Nós podemos ser heróis

Nós não somos nada, e nada vai nos ajudar
Talvez estejamos mentindo, então é melhor não ficar
Mas poderia ser mais seguro, apenas por um diaoh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh, só por um dia

Oh-oh-oh-ohh, oh-oh-oh-ohh, apenas por um dia





sábado, 16 de janeiro de 2016

Julgas e serás julgado

Você faria tatuagens com um tatuador sem tatuagem nem piercings?
Sim, não? 

A pergunta surgiu numa conversa que estava tendo dias atrás com uma moça que tem problemas de quelóide. Quelóide ou cicatriz hipertrófica é um problema em tatuagens e piercings, porque fica muito feio e estraga o desenho. Então, a pessoa que quiser ter e sofre deste problema precisa usar piercings e tattoos falsas. Mas isso causa uma espécie de repulsa em alternativos e demais interessados na arte, porque parece dar a entender que a pessoa tem medo de assumir as intervenções corporais. O assunto, aliás, não é novidade, aparece em vários fóruns de discussão (aqui e aqui, só para dar exemplos).

E aí veio a questão. Quem tem tendência a quelóide pode ser tatuador. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas você se tatuaria com quem não pode ter? E com quem simplesmente não tem?

É fato que nós, seres humanos, temos um mecanismo evolutivo que nos faz acostumar com o que considerado seguro e desejá-lo. Por que mesmo aqueles que não temem altura sentem um frio na barriga perante o perigo de cair? Porque é ancestral. Nos acostumamos de tal maneira a associar fatos com pessoas que não raciocinamos mais. 

Está vestindo branco? É médico.
Mas pode ser dentista. Pode ser fisioterapeuta. Pode ser pintor (muitos preferem usar branco, pois é mais fácil limpar com água sanitária depois). Pode ser praticante de religião afro ou espírita...

Está de terno? É advogado ou político.
Já teve ladrão usando terno e gravata para impressionar as vítimas, sabia?

E se você entrasse em um estúdio de tattoo e o artista não tivesse uma sequer? Você acreditaria em seu potencial? Ou julgaria, como tantos, que ele não é alternativo o suficiente, que não é bom o suficiente?

Se eu mostrasse a foto desta mulher e dissesse que ela entende de rock, você acreditaria?


Pois ela é nada mais, nada menos, que Gisele Maria Rocha, brasileira, muçulmana e toca guitarra pra caramba!!! Olha um vídeo dela:


Fico pensando na quantidade de pessoas que desistem de seus sonhos por um impedimento social. O tatuador com quelóides é apenas um exemplo. Ele é um artista, independente da cena ou não. E ser isolado por conta de uma obrigatoriedade social da cena é algo triste. Se ele usar tattoos falsas e piercings falsos, ele será menos que os outros? Se eu usar por problemas para furar, serei menos digna?

A cena alternativa dentro dela mesma sempre lutou por igualdade: de raça, de sexualidade, de condição social. O punk era punk, independente de ser negro ou branco. O gótico é gótico sendo homem ou mulher. O rockabilly é rockabilly, independente se veio da praia, do campo ou da cidade. 

E aí vejo aquela briga do "gótico tem que parecer um vampiro, pele cor de leite" e fico fula. Punk tem que se furar todo para ser respeitado. Fetichista pre-ci-sa usar saltos altíssimos. Não, não, não. Isso não é uma questão de manter o aspecto cultural da subcultura. É impor uma regra cega, segregadora. Exatamente a mesma coisa que a sociedade "normal" faz conosco todo dia.

Sempre lutamos por respeito ao indivíduo. Nossos avós vieram de gerações onde não havia respeito a vontade individual. Sonhos enterrados e frustrações eram o estopim de muita subcultura, a base da luta. E de repente estamos nós impondo condições para aceitar? Existe o "alternativo, mas não o suficiente"?

Sinceramente? Sou alternativa porque penso diferente. Não é tatuagem, não é piercing, não é tacha, renda ou rebite. Cansei de olhar no espelho e me perguntar se estava alternativa o suficiente. Agora penso "vou passar a mensagem que quero?". Mensagem de "não ligo para a podridão da sociedade, tenho coisas mais importantes a fazer. Tenho sonhos e vontades". 

Se uma pessoa que sonhou ser tatuadora, mas não pode ser por imposição social da cena, desistiu, então estamos regredindo.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Por que amamos o mal encarnado em forma de mulher?

Estava eu assitindo aulas online de corte e costura (falarei mais a respeito futuramente) e me vi pesquisando, na minha enorme pilha de revistas de moda. As pilhas são beeeeeeem grandes mesmo: cerca de 150 revistas dos anos 90 e dos anos 2000 (até 2009), quando a moda costumava ser mais ousada, menos rígida, menos ditatorial em suas revistas.

Dentre as várias que tenho, muitas tem referências a personagens de novelas, porque estas lançaram tendências. E comecei a notar que, todas as vezes que encontrava uma peça que me agradava, era de um figurino de vilã. Raríssimas vezes era roupa de mocinha - e quando era, era num momento fúnebre ou sombrio.

Eu passava minhas férias com a minha avó, e assistia muita novela. Ela é tarada por novela: assiste as reprises, todas as novelas do horário nobre, e se tiver alguma passando depois em outro canal, ela dá uma espiada também. Ela é uma típica "escrava do PlimPlim". Com isso, eu acabava ajudando-a nas tarefas da casa e acabava assistindo junto. Com isso, vi muita novela, até meados de 2002, quando eu já passava minha férias trabalhando. A última vez que vi, foi quando estava no hospital: as mulheres que estavam no mesmo quarto que eu adoravam novela...Estava passando Da cor do Pecado e Lado a Lado (esta última, por sinal, foi uma das poucas que assisti toda e gostei).

Definitivamente, sou noveleira enrustida, graças a minha avó (saco!).

As roupas das vilãs tem características muito peculiares. Na maioria, vemos muita cor escura, linhas retas e angulares, modelos justos, uso de materiais mais brilhantes - couro, veludo, vinil... - combinados a acessórios grandes. bolsas poderosas, sapatos classudos e maquiagem marcante. Exatamente tudo que amo em visual!

À medida que o tempo foi passando, quando eu ia visitar minha vó, ela me mostrava a vilã e eu levava um susto: cadê a roupa preta? O femme fatale? Começou com a Flora de A Favorita de 2008:

Começo da novela: roupas sem toques de preto. A ideia da figurinista, eu soube, foi fazer o público ficar na dúvida sobre quem de fato era a assassina.

Mas depois que ela se revela...
Abre alas que o preto está na área.

E culminou com a mesma atriz encarnando D. Constância, de roupas claras e ar de bondade:
Constância em 1904 e depois, em 1910 (Foto: Lado a Lado/TV Globo)
Esta bisca me fez passar muita raiva no hospital Vilã boa = vilã dissimulada.

Aí fui lembrando das vilãs que, de alguma forma, tive contato com o visual e cujo estilo eu gostava bastante:

Tia Laura mostrando que as cachorras arrasam na coleira, em Celebridade;

Deodora em Tempos modernos = amor total. Não é a toa que tem muiiiiiita foto dela aqui.

Barbara mostrando que o racismo não compensa, em Da Cor do Pecado

Elizabeth mostrando que as freiras tem estilo, em Pé na Jaca;

Leona em Cobras e Lagartos (jaquetas lindas!)

Priscila, a neonazista de Vitória (na Record): totally bitch!

Silvia de Joia Rara, muito estilosa!

Nazaré fazendo escola e mostrando a importância da auto estima em Senhora do Destino

...

Margot em I love Paraisopolis: cadê o sutiã no trabalho, menina?

Alguém avisa a Verônica (em Cama de Gato) pra deixar um pouco de beleza pra gente?


Mas enquanto olhava tanta foto, me peguei em uma dúvida. Afinal, por que gostamos da vilãs? Não deveríamos odiá-las? Rejeitá-las? Então por que lembramos delas e não das mocinhas? De algumas, lembramos até o sobrenome na trama, mas não conseguimos lembrar o que comemos ontem!

Não é só o visual. É a postura, a ousadia, a gana de querer algo a todo custo. Conforme Aguinaldo Silva falou uma vez: "A mocinha está cada vez mais aprisionada dentro dos limites do politicamente correto. Se a coitadinha se sentar com as pernas descruzadas, já sofre rejeição. Assim, a vilã, que não conhece limite, torna-se cada vez mais interessante quanto menos é politicamente correta. "

Ou seja, gostamos das vilãs porque elas não são estão presas a correntes da moral. Elas fazem e acabou. Elas ditam novos padrões. Algumas acabam sendo idolatradas porque o público se identifica com elas: afinal, que mãe não iria até as últimas consequências, que nem D. Constância? Acontece uma projeção, um "colocar-se no papel da ficção". Outras chutam a sociedade para longe, e colocam para fora o que é imoral, caso da Bárbara, que não escondia ser racista. Elas falam o que muitos de nós pensamos, mas não expressamos. Podemos ser processados, rechaçados, perder nossos admiradores e amigos. Então não falamos. Preferimos nos esconder sob a máscara de bondade. Isso mostra que o mau anda de mãos dadas com o bem muitas vezes. Não a toa, Shakespeare colocava o vilão para falar sozinho e confessar suas maldades ao público, ao invés de declarar-se o algoz, de maneira explícita. A fórmula fez um sucesso universal, até hoje.


E tem mais. Se antes a vilã queria ser a esposa de alguém, hoje ela quer ser este alguém. Ela não quer o homem, ela quer a posição hierárquica dele. Mas percebam uma coisa: raramente vemos uma mulher ir contra um homem, de maneira aberta e declarada, nestas tramas. É mulher contra mulher, com ou sem apoio do homem afetado pela vilania. Raras vezes vemos um mocinho, e não conseguimos recordar, aqui em casa, de um mocinho que se levantou sozinho contra uma mulher. Um homem ser vítima de uma víbora não faz tanta audiência, faz? Será? Lembram do filme Assédio Sexual e a polêmica que deu?

E aí entra uma teoria minha: é muita mais fácil colocar mulher fazendo maldades explícitas, invocando a história do Pecado Original, sobretudo contra outras mulheres. As mulheres se identificam porque querem ser a vilã - livres, desimpedidas de amarras. Mas quem faz isso é a vilã. A mocinha, quando faz isso, é rejeitada pelo público (na UTI assistia Salve Jorge e quando via a personagem Morena, já sabia que ia dar problemas para o autor. Pedia para desligarem a Tv). As mocinhas são aquela sementinha plantada na cabeça de nossas meninas: sempre seja boazinha, abra mão do que você deseja pelo que a sociedade prega como certo. Aceitam as maldades como vítimas, e podem até lutar por justiça, mas sempre a sombra de uma razão forte (o marido, o homem amado, os pais, os filhos, a empresa da família, etc.). Se alguém lembrar de alguma mocinha que se viu contra a vilã apenas por sua própria honra, me avisa por favor.

É muito fácil colocar as mocinhas como boas meninas, que são educadas e quietinhas, e passam a ideia de normalidade. Ser bonzinho é a lei da nossa sociedade, e que forma melhor que ser igual as mocinhas? Só que esta fórmula está cansando. Não somos mais mocinhas quietinhas. Somos mulheres com sede de vitória, que estão dispostas a lutar por igualdade e justiça. Seja contra homem, mulher ou empresa. Temos sonhos, alguns de grandeza sim, e vamos atrás. 

Ser a mocinha hoje é politicamente correto, mas francamente é muito chato. Mas ser vilã não é legal também. Exceto pelo visual :D

E para finalizar, deixo uma vilã que foi o ápice. E é amada até hoje:


Beijos!
Fonte das imagens: Google

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Em 2016...vou lembrar de 2015, 2014, 2013...

É primeiro dia do ano. A chuva lambe a janela, num cumprimento frio mas calmante. As taças da ceia de ontem estão sobre a mesa, esperando outra confraternização para usar.   

Acordei pensando no famoso balanço a fazer de 2015. Muitas coisas aconteceram desde o último ano de 2014: eu me divorciei, fui atrás de um doutorado, comecei uma série de exercícios e focos para andar sem órtese nos pés, que usava desde 2013 (mesmo tropeçando todo dia), lutei para terminar 2015 no azul (sobrou 50 reais!) e conheci muitas pessoas.

Pessoas. Acho que são as pessoas que me moveram de sair da concha e colocar a cara a bater. A pessoa que vi no espelho em Janeiro, abatida e desiludida, clamando por colo e carinho, chorando por um 2014 que não esperava ter. As pessoas que me apoiaram em Março, quando decidi dar um basta na relação conjugal. As pessoas que em Abril me rejeitaram por eu ter escolhido o divórcio, e que em Maio deram as costas. As outras pessoas maravilhosas que conheci em Abril, fui convivendo em Junho, Julho, Agosto, Setembro e estão até hoje. Novas amizades. Novo amor. Novo compromisso de trabalho. 

Mais livros. Mais lágrimas. Mais amadurecimento. Mais brincadeiras. Mais batom, menos base corretiva. Saltos, quem diria! Fisioterapia.

E em 2016 penso no que quero, e descubro que a única coisa que de fato desejo são oportunidades. De mostrar ao mundo meus sonhos. De poder gargalhar mais. De consolar e ser consolada. De ensinar e aprender. De respeitar e ser respeitada. De ouvir Darkwave e Pós Punk com a mesma paixão que ouço Legião. Mais tatuagens, mais piercings! Que eu possa dormir mais vezes este ano satisfeita com mais notícias boas, e menos vídeos ruins sejam compartilhados. 

E sobretudo, um ano de 2016 cheio de amor e carinho a todos. Este é meu maior desejo. 

Venha Ano 2016! Estamos prontos!

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