Há alguns dias, postei sobre o fato de ter deficiência física e como isso ia repercutir neste blog.
Não quero fazer deste blog um blog de ativismo. Já existem sites que fazem isso com muito mais maestria. Claro que vou defender - eu sempre defendi, muito antes de ter me tornado uma - mas o foco não é este. Vou falar de deficiência? Lógico. Maaaaas... O foco aqui, ou melhor, os focos, são dois: ajudar quem tem um estilo mais dark de se vestir de fazer isso sem problemas no trabalho, ou em situações formais, ou num estilo mais sóbrio. E me permitir contar as minhas histórias.
Eu tenho muita história a contar. Talvez não sejam interessantes, talvez não sejam engraçadas. Mas faz parte do meu lado filósofo contá-las e analisa-las. Foi assim que amadureci, que percebi meus erros e acertos, o que quero de fato.
Quando era criança, meus pais contam que eu tinha uma capacidade estranha, uma enorme empatia. Empatia por aqueles que ninguém queria brincar, ninguém queria conhecer. O estranho, o isolado, a tímida - esse eu queria amizade. Na minha rua, tinha uma menina com paralisia infantil grave, e muitas crianças não queriam brincar com ela. Eu queria. Mas eu era criança, não tinha noção exata do que era aquilo, de que eu lia nos olhos dela a tristeza por não poder correr conosco.
Na adolescência, a mesma coisa. Entrava alguém diferente no colégio, já queria me enturmar. O novato sempre recebia minha atenção. Quem estava triste, chateado, também. Eu ficava chateada junto, sofria junto. E na fase adulta. E até hoje. E será sempre.
No fundo, penso que parte de mim tem esta coisa, de querer fazer o bem incondicional, com todos. E parte de mim queria amor, amor de todos os lados, numa sede que nunca acabava, e que via nos desconhecidos uma oportunidade de beber, beber até me afogar.
Não há mal em querer o bem. Não há mal em querer amor. Mal há em abrir mão de si mesmo, do que você crê, por medo de perder aquilo que você tem. As pessoas ao seu redor.
Quando era criança, sempre me lembro de meu pai ficar contente quando contava a ele como tinha feito amigos e brincado com outras crianças. Percebo hoje que ele ficava feliz, porque eu estava feliz. Mas na minha cabeça, ele ficava feliz porque estava sendo simpática e extrovertida. "Todo mundo devia ser sempre extrovertido".
Levei isso para a vida. E claro, me enganei.
Este momento em que você percebe que cometeu uma bobagem, mas que a bobagem funcionava como escudo de proteção, é como sair de um tanque blindado no meio de um bombardeio.
Eu fiz o que achei certo. Nos anos 90, ser tímido, caladão, nerds, não era motivo de elogio; era motivo de chacota, de filme pastelão, de pichação e gracinhas no banheiro.
E aí eu ia para o recreio pensando em ficar na sala lendo um livro - e não podia. Muitas vezes queria ir ao recreio conversar com os outros, mas mais vezes ainda queria ficar quietinha, nas minhas leituras, preenchendo aquela fome de conhecimento e solidão com grandes quantidades de livros. Solidão é bom; se sentir só não.
E nesta de querer saber para que lado ir, o de me enturmar ou de me fechar no meu mundo, eu decidi me enturmar. E acabei, por inúmeras vezes, abrindo mão de quem eu sou. Gosto da noite, do amanhecer, do preto, do silêncio. Mas lá estava eu, em rave, em saias de cigana, em parques. E não me encontrava em nada, não me via em nada. Acho que foi assim que ganhei meu apelido. Um grande amigo me deu, porque quando tiravam com a minha cara, mudava de cor. Mas depois este mesmo amigo me disse que eu tinha a capacidade bizarra de me mesclar em qualquer lugar. O camaleão olha para diferentes pontos ao mesmo tempo - eu também. Eu estava sempre a vontade, seja com clubbers, hippies, punks, nerds, metaleiros, patricinhas. Eu achava graça - será que ao me mesclar eu adquiria nova identidade? E se isso acontecia, será que as pessoas acreditavam em mim? Quem eu era de verdade, afinal? O apelido caiu como uma luva.
A idade me mostrou que existem formas de se mesclar em todas as tribos. Nos anos 90 isso não acontecia. Todo mundo se rejeitava, queria pegar na saída da escola. Como que eu conseguia entrar nos grupos? Acredito que absorvia de tal forma as coisas, que deixava o meu eu de lado. É claro que sempre havia alguém ali que percebia isso, e me repelia. Normal. Anormal é você se acostumar de tal forma a se camuflar, que perde a referência.
Não há nada de mal em fazer amigos, em se enturmar, em curtir novas pessoas e experiências. Mal há em passar por cima de você mesmo por causa disso.
E aí pensei "legal, quando me tornar adulta e dona do meu nariz, vai ser tudo diferente..."
E foi. Para pior.
Continua...
Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.
Ai minha Deusa, também sou muito empática kkk pra ter idéia não consigo assistir telejornal ou ler certas notícias porque eu entendo o sentimento das pessoas e fico sofrendo junto por horas! Então não assisto mais jornal e só leio "certas" notícias. Mas quando criança eu não sabia o que era isso e sofria pacas e depois, na adolescência e até pouco tempo atrás eu negava toda minha empatia, não aceitava, posava de pessoa fria e distante como que pra bloquear porque eu queria mostrar ser forte sabe? Hoje de certa forma dou uma controlada nessa empatia especialmente na rua, aperto um "phoda-se" mais suave. Senão não vivo. Na escola eu especialmente via a solidão dos outros e queria me aproximar, mas eu nem sempre conseguia pq tb era muito tímida!! Imagina, tímida, diferentona: bullying na certa! Bem diferente de hoje que ser "diferente" meio que tem um status...
ResponderExcluirAdorando seus posts!
Sana, tu tb sofre vendo jornal? Achei que era só eu! hehehehe
ResponderExcluirEu tb posei de pessoa fria, no meu caso até manipuladora, só para disfarçar e mostrar força, mas não era sempre, não conseguia. Quem realmente era e é meu amigo sabe que sou uma pessoa super sentimental e procuro ser doce. Faz parte do meu show hehehe
Eu tento tocar o fo%-se na rua e na vida, mas Deus, como é dureza! E pensar que tudo tem mudado tanto, que hoje o diferente é considerado status, como vc falou.
Que bom que vc veio! Venha mais vezes, adoro seus posts lá no Diva e sempre to de olho!