Nos posts anteriores, comecei uma série de crônicas, por
assim dizer, sobre o porquê de eu escrever um blog. Eu devia chamar esta série
de “Crônicas camaleônicas” ou algo parecido hehehe. Onde que parei? Ah sim, naquele momento quando você se torna
adulta pela primeira vez.
A primeira vez que me senti adulta foi quando fechei a porta
do apartamento onde passei a morar sozinha depois de passar no vestibular. Ali
eu ia ser a rainha, eu ia ouvir as músicas que quisesse (já fazia isso), ver
meus animes (idem), e ser como eu quisesse. A questão era: será? De fato, eu fui assim. E diria não ter arrependimentos, se
não fosse pelo fato de que muitas vezes eu fui como outros quiseram que eu
fosse. Sem perceber? Não. Sinto dizer.
O primeiro dia na faculdade foi algo que nunca vou esquecer.
Eu estava tão orgulhosa, tinha penado tanto para estar ali, que fui sorrindo o
caminho todo, encantada, achando que ia ser um lugar de formar meu caráter. Na
primeira oportunidade, um veterano tirou isso de mim, ao dizer que ninguém ali
é especial, que eu não deveria ter orgulho nenhum de estar naquela pocilga e,
por fim, me arrancou o boton que ganhei no dia que soube do resultado do
vestibular. Ficou com ele.
Ali foi onde eu aprendi como o ser humano pode ser cruel e
bom. Conheci pessoas fascinantes, e pessoas medíocres. Pessoas que me
acrescentaram e pessoas que me destruíram. Mas foi ali que entendi o valor de você saber quem é e
defender teus princípios. Tudo que achei que deveria fazer eu fiz: fumei, tomei
porres, seduzi caras para depois do jantar dar um fora, sacaneei pessoas,
transei e descartei. Nada disso era parte do que eu de fato defendia. Eu
defendia o caminho do equilíbrio, de você fazer o que te faz feliz e pronto. Não
ceder. E acabei cedendo covardemente...
O pior era que meu estilo de ser, e claro de se vestir foi afetado. Parecia
tão a vontade...e era tudo falso. Sempre tive o pé do dark, isso é fato. Mas
ali todas as influencias eu absorvi. TODAS. Eu fui hippie, hi-lo, romântica,
metaleira. Nunca me achava, e muitas pessoas ao meu redor me empurravam para
todos estes lados. Não foi só culpa delas – eu me achava tão esperta, tão
descolada, tão integrada, que não enxergava as pessoas que se importavam comigo
de verdade. E seguia a corrente. Para piorar, eu não fazia uma faculdade com exigências
de vestimenta. Biologia foi o curso com mais pessoas alternativas que vi,
depois de geologia e filosofia! O fato de você trabalhar em um laboratório, em
lugares onde não é tão exposto, favorece. Mas quem disse que me veio a coragem?
Eu já estava a tanto tempo daquele jeito, misturando tudo, que quando voltava a
meu eu a pressão e rejeição eram enormes.
Aí começaram a abrir umas luzes naquele céu escuro. Comecei
uma outra faculdade a noite com pessoas mais velhas que eu. E ali ninguém dava
a mínima para aparências. Ali eu era eu. Como queria me descobrir, eu comecei a
imitar estilos de pessoas que curtia. E na mesma época comecei um estágio
importante, onde precisava ir de roupa social. Fui na Renner, comprei um
blazer, uma calça, uma camisa preta e um sapato pretos. Mesclava com as peças
que gostava e tinha em casa: coturnos, brincos de feirinha hippie, broches,
cinto de skatista. Ia testando, e passei a me sentir bem com aquilo. O que dava
certo eu tentava mais vezes.
Mas o melhor foi que comecei a receber elogios. Pela
primeira vez, eu me sentia confiante a ponto de me elogiarem sinceramente! Meu
professor um dia falou “até que enfim estou te vendo!”. Foi sensacional, e foi
ali, depois de voltar do estágio, de calça pantalona, coturno, blazer e camiseta
customizada, que me olhei no espelho e pensei: finalmente, esta sou eu.
Infelizmente, esta não é uma historia da Disney. Isso ficou
em mim, e frutificou. Mas só quando me afastei de muitas pessoas que não
aceitaram aquilo. Onde já se viu, uma bióloga de roupa social? Acha que
trabalha onde? Ouvindo A-ha? Mas não era você a metaleira? E diz que gosta de
Nightwish? Falsa!
Falsa. Falsa eu era mesmo. Comigo mesma!
Quem diz que nunca tem arrependimentos, para mim é
mentiroso. Todo mundo tem, e eu tenho vários. Este é um deles. Perceber quem eu
era, e me deixar arrastar pelas correntes do “todo mundo igual”. Os anos
passaram, as obrigações vieram...trabalhar, pagar contas...fazer mestrado,
pensar no futuro. Eu andava que nem um cão sedento na beira de um poço, sem
saber como puxar a água. Se eu fosse alguém de caráter, naquela época, eu teria
me tocado e tocado o terror. Mas não conseguia. Só quando me afastava de tudo.
Tinha tamanho medo de rejeição, de não amor, de perder, que não arriscava. E me
pegava chorando, perguntando a Deus: onde estou errando?
Algumas poucas pessoas conheciam meu verdadeiro eu. Estas
pessoas sempre me apoiavam, e se mantinham firmes ali, dizendo para eu não me
trair. Como não aguentava mais, fugi. Mudei de cidade e criei uma nova
identidade. E permaneceria nesta vida estupida, de auto enganação, de se
agarrar em bóia furada, se não fosse ficar doente a 2 anos atrás.
Ficar doente não apenas afetou minhas pernas, e me fez me
tornar uma deficiente física. Ela me deu tempo para pensar. Eu não mexia o
corpo, exceto os olhos. Nem a boca. Só olhando as pessoas ao meu redor, ouvindo
sem contestar, consolando lágrimas só com o olhar. Pessoas me dando banho,
dando remédio, limpando minha saliva e meus olhos, fazendo massagem. Eu, que
era tão auto suficiente! Orgulhosa e briguenta, afastada de todo mundo, ali estava
frágil, com a vida ligada a um aparelho. Eu era amada, e sabia. Mas ali eu
estava vendo. E pensando.
Pensando em todas as pessoas que passaram na minha vida.
Cada amigo e amiga, cada flerte. Cada mentira, cada trapaça, cada gole de
bebida, cada cigarro. Cada transa, cada briga, cada risada. Ali percebi: perdi
muito tempo. 29 anos perdidos, mentindo para agradar pessoas. E ali naquela UTI
tive a prova de quem realmente não me enganava. Orava pedindo a Deus, que se me
tirasse dali, nunca mais ia me trair. Chega de mentir. O que eu quisesse eu ia
buscar, não importasse quanto conflito tivesse. Eu queria amar, dizer aquelas
pessoas “amo vocês, nunca mais vou fugir!”, eu queria viver plenamente!
Demorou. Me foquei um ano em sarar. Assim que veio a
confirmação de minha sequela, mais 6 meses para preparar meu coração e minha
mente. Em nenhum momento me senti injustiçada. Minha doença foi fruto de meu
próprio abuso, de meu stress e negligência com meu corpo. Agora, uma nova
chance. Com um bônus: eu não preciso ser perfeita. Nunca seria, mesmo me
empenhando ao máximo, pois aos olhos de outros eu já tinha o defeito na perna!
Parece doentio? De certa forma. Mas me agarrar neste
pensamento foi a pomada cicatrizante que estava faltando nesta ferida. Com ela
devidamente fechada, era hora de, sem pressa, voltar a ser a menina de calça
pantalona, coturno, blazer e camiseta customizada.
Como esta história ainda vai render, não se preocupe, muitos
outros detalhes virão. Mas isso fica para outra hora.
Tempo perdido - Legião Urbana. Nada mais adequado.
Carpe diem, carpe
noctem, finis est initium.
Quem nunca se perdeu no meio da influência equivocada dos outros? Gostava de algo e gostava em silêncio, pra não atacar o gosto absoluto alheio? Acho que todo mundo na vida passa por isso e é super normal, a questão é que felizmente você acabou se impondo, se descobrindo e descartando quem não te somou.
ResponderExcluirLa Diabolique - Fan Page
Oi Sammy!
ResponderExcluirAcho que todo mundo tem estas fases, né? É chato ter de descartar quem não acrescenta, mas faz parte do processo de se encontrar. Quando a gente está bem, acaba atraindo pessoas do bem.
Obrigada pelo comentário!
;)