quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Síndrome de Pollyanna

Você conhece os livros da Pollyanna?


Pollyanna, uma menina de onze anos, após a morte de seu pai, um missionário pobre, se muda de cidade para ir morar com uma tia rica e severa que não conhecia anteriormente. No seu novo lar, passa a ensinar, às pessoas, o "jogo do contente" que havia aprendido de seu pai. O jogo consiste em procurar extrair algo de bom e positivo em tudo, mesmo nas coisas aparentemente mais desagradáveis. O livro desencadeou uma enorme onda de boa vontade e otimismo em todo o mundo (fonte). 


Eu li as versões com estas capas. Estavam amareladas de tempo, com cheiro de biblioteca (que eu adoro, confesso).

Pollyanna é um livro que me recorda muitas coisas. Sobretudo, incredulidade. Não conseguia acreditar que tem como tirar algo de bom em TUDO que acontece nas nossas vidas. Isso seria meio...cínico, ao meu ver.

Por que citei este livro? Porque hoje vou falar de algo dolorido e muito sério.

Já percebeu que muitos deficientes físicos sofrem da Síndrome de Pollyanna? Por terem sobrevivido, estarem vivendo suas vidas, parece que sempre tem de estar sorrindo, felizes com tudo e todos. E o "coitadismo" sobre deficientes também é comum.

Digo isso porque eu sofro duplamente, por ser deficiente e ser alternativa. E sinceramente? Quer me tratar mal por causa do meu estilo, até entendo. Mas pela minha deficiência não. Agora, me tratar bem por causa da deficiência que possuo TAMBÉM não me agrada! Quero que me trate bem pelo que sou.

Dias atrás entrei no ônibus e sentei bem na frente, porque ele já estava em movimento. Até que entrou duas senhoras e pediram para sentar no meu lugar. Fiquei meio zangada (estava cheio de outros lugares na frente), mas o bom senso diz que não faz sentido ficar de bico por bobagem. Levantei, fui para outro lugar...e logo notei ser observada. Ao olhar para quem era, duas mulheres tentando disfarçar que falavam de mim. Eu não ligo quando falam. Mas naquele dia, tinha algo diferente. O olhar delas era de reprovação. Pela minha carranca ao levantar do lugar e sentar em outro. Então quer dizer que, por eu ser deficiente, eu tenho que estar sempre satisfeita? Sem ter reclamações? Não tenho direito de reclamar? De ficar de bico por um tempo? De errar?

Parece que existe uma lei silenciosa que diz que, se você for um sobrevivente, ou um deficiente que tem uma vida, você necessariamente tem que estar sorrindo, senão você é um ingrato. E sempre haverá alguém disposto a perdoar seu erros sem apontá-los, por pena. Aquela história: "Ela errou isso aqui, mas afinal, você sabe o que aconteceu com ela, vamos fechar os olhos para isso e corrigir sem falar nada". Eu fico furiosa quando fazem isso. Eu mereço ser tratada como uma igual. Quero levar bronca se necessário, sem atenuantes que não são relevantes. Existe uma diferença enorme entre errar por causa da deficiência, e errar por falta de competência, percebe? Se todos são passíveis de erros, por que aliviar só comigo?

E a Síndrome de Pollyanna se propaga na mente das pessoas todo dia. Ninguém tem que ficar só vendo coisas alegres, e também não tem que ver só coisas tristes. Tem que ter equilíbrio. E exigir de um deficiente que ele esteja sempre sorrindo é o mesmo que exigir que ele esteja sempre triste com a vida. A pressão faz mal. Seja cego, surdo, mudo ou não. 


Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.




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