segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Tatuagens - aceitação no ambiente corporativo

Em um post anterior, comentei sobre tatuagens. Neste post, quero falar sobre tatuagens em ambientes corporativos.

Quando fiz minha primeira tatuagem, escolhi fazer nas costas para não enjoar dela, afinal não a veria com frequência. Mas também fiz por ser fácil esconder. Eu sabia que muitas profissões ainda não aceitam tatuagens a mostra. A profissão que visava não era tão rigorosa, mas aquelas pessoas que me avaliassem talvez fossem. Assim, preferi fazer de forma a escondê-la.

Anos mais tarde, quando já tinha mais duas tattoos, eu percebi o impacto de ter tatuagens em certos ambientes. Meus alunos não sabiam que eu tinha, e assim que perceberam foi uma bagunça total – puxaram a minha blusa para ver melhor, fizeram piadas. Eu perdi o respeito que tinha cultivado arduamente, por ser mais nova que alguns dos meus alunos e ter pouca experiência. Foi aí que percebi que a tatuagem conta uma parte de sua história, e ela tem impacto nos outros.

Meus empregadores não sabiam das minhas tatuagens. Então, não sofri preconceito. Mas já vi pessoas serem mal tratadas (uma amiga teve um chefe que sugeriu a ela cortarem o desenho fora). Aqui entram as leis. O artigo 3º da Constituição brasileira, no entanto, determina que um dos objetivos fundamentais da República é “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Algumas empresas possuem um padrão estabelecido de aparência, que inclui pessoas não tatuadas. É chato? Claro. Mas acontece, e muitas vezes quem te entrevista não te conta que foi por causa disso. A sociedade tem mudado sua mentalidade, mas ainda não mudou totalmente. Aceitemos isso. Mas não aceitemos preconceito.






Já li argumentos dos mais diversos, como este:
“É claro que todos têm o direito de se embelezar - e gosto não se discute. Mas essas pessoas sabem que vão enfrentar barreiras no mercado de trabalho. O exagero na auto-expressão cria obstáculos para tatuados e "espetados" no relacionamento com outras pessoas e no ambiente de trabalho. Mas, como o motivo principal é a rebeldia, quanto mais resistências encontram, mais eles se satisfazem, vendo na atitude dos outros inúmeros motivos para acioná-los na justiça. (...) Enquanto o posto de trabalho for de propriedade do empregador, o assunto é insolúvel. Ele sempre vai achar algum motivo para evitar empregar quem não deseja. É claro que campanhas de esclarecimento sobre infrações legais ajudam os empregadores a serem mais flexíveis. Mas as mesmas campanhas têm de sinalizar aos candidatos a empregos a necessidade de limitar seus impulsos artísticos se de fato querem trabalhar em companhia de outras pessoas e em ambientes nos quais a aparência é parte da competência. Essa é a chave do problema. No mundo atual, competência não se restringe a conhecimentos. Ela inclui apresentação, atitudes e comportamentos pequenos?” (vi aqui).

Por mais grosseiro que pareça, o autor desta declaração tem razão ao dizer que a vaga pertence a quem emprega. Isso é fato. Mas discordo quanto a parte da rebeldia. Sobre isso, o que eu proponho a quem tem tatuagens e trabalha em um ambiente corporativo, é que adote uma estratégia que favoreça todo mundo. Já ficou comprovado que quando partimos para conflitos diretos, a tendência é sermos rotulados de rebeldes, revoltados, encrenqueiros. Isso nunca ajuda ninguém, pelo contrário. Queima o filme de todos que vem depois que o encrenqueiro ser mandado embora. Sim, porque ele será mandado embora. As desculpas? “Cortes de orçamento... remanejamento de pessoal... novo perfil de empresa... capacidades que você não possui para o cargo...” e etc. Não sejamos egoístas, vamos pensar coletivamente. Só um exército unido ganha guerras. E assim adotemos uma estratégia esperta.

Quando li “A arte da guerra para mulheres” de Chin Ning Chu, inspirado no livro de Sun Tsu, li uma frase que me marcou: “Aquele que modifica a tática conforme a do oponente para alcançar a vitória é um guerreiro divino.” A partir dali, comecei a adaptar a minha estratégia ao meu ambiente de trabalho, usando a mesma ideia de Chin Ning Chu.

Se o ambiente é formal e você perceber que não há tatuagens a mostra, pense se quiser trabalhar lá. Você quer? Ótimo, assuma seu desejo e mescle-se com o ambiente. Esconda as tatuagens e pareça igual aos outros, assim seu empregador verá você como parte integrante da equipe, não como alguém que destoe. Quem destoa é inimigo.

Vá mostrando sua competência. Esforce-se ao máximo, não porque você tem algo a provar, mas porque você é capaz e sabe disso. Você merece estar ali. Seu chefe, se for uma pessoa íntegra e esperta, perceberá que você é um membro valioso da equipe. E vai querer você ali com ele, ajudando.

A partir daqui, já temos duas situações. Se seu chefe é uma pessoa amiga, abra o jogo e fale das tatuagens, do seu estilo, a história delas. Ele não vai se importar se você começar a mostra-las – você já mostrou que entende do que faz, e faz muito bem. Ele vai alertá-lo se for dar problemas. Mas se não tiverem amizade para tanto, tente ir aos poucos, mostrando devagar. E peça um feedback discreto. Seu chefe reprovou? Não insista. Ele nem ligou? Vá em frente com calma. Afinal, você é tão gente boa e sociável, e tão competente, por que então implicarem com seu corpo?

Se você tem tatuagens que não dá para cobrir, aceite que na entrevista seu empregador pode te dispensar por causa disso. Se você não for aceito, avalie: provavelmente você não ia se sentir à vontade naquele ambiente.

Já no trabalho público, teoricamente quem tem tatuagens é aceito sem restrições. Aqui caímos em uma situação bem complicada. Pode ser que você seja tratado diferente, e tenha mais dores de cabeça. Mantenha competência em foco, e não brigue se não for necessário meeeeesmo. Você é superior a isso e se tiver paciência, você chega lá. Na dúvida, tente a estratégia que comentei.
E sobretudo prove que você é uma pessoa evoluída. Pessoas comuns brigam que nem loucas. Pessoas evoluídas brigam de forma eficaz.

Fontes: 1, 2, 3, 4

Atualizado em 08-10-2014:
Li esta matéria na Superinteressante, e recomendo ler! É sobre o censo das tatuagens do Brasil.



Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.

Um comentário:

  1. Este é um dos motivos que me fizeram desistir de fazer tatuagem, principalmente porque imagino que irei dar aulas e etc. E também porque acredito que tatuagens podem ser escolhidas "pela beleza", mas no fim, sempre tem um significado subconsciente... ai como quero viajar bastante, prefiro não me "datar" ou adotar talvez uma simbologia que possa ter sido distorcida pelo imaginário popular... sabe como é. /: Beijo Vivs!

    4sphyxi4.blogspot.com.br

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