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Fiquei 4 semanas sem carne. Orgulhosa de mim por resistir bravamente, fui com uma amiga jantar num pub aqui de Curitiba. Conferido o cardápio para ver se tinha opções sem carne, fomos bem felizes. Feliz mas um pouco desanimada. Andava chata a dias, com tonturas durante a fisioterapia. Achava que era por voltar a pegar pesado com exercícios. Também vivia faminta - embora comessse muito mais do que estava acostumada, a ponto de ficar empanturrada. Meia horas depois, já estava com fome. Inchada, barriga sobressaindo da calça. Por ter de escolher entre comer carne e comer gluten, estava escolhendo comer gluten. E o organismo andava reclamando muito.
Chegando lá, cardápio restrito a 3 pratos. As 3 opções com carne. E eu com uma fome enlouquecedora, já com dor de cabeça forte e fraqueza ao andar. Não conseguiria ir a outro lugar sem passar mal. Que coisa chata! Comi um pão com carne dentro. A comida descia pela garganta, entre a alegria de comer algo e a tristeza de comer carne. Me senti imediatamente melhor. A sensação era de saciedade, satisfação, culpa, tudo junto.
E no dia seguinte, voltando a dieta sem carne, notei que pela manhã tinha conseguido ir ao banheiro com mais facilidade. Não sabia dizer bem porque, mas andava com os intestinos fora de ordem. Também não passei mal na fisioterapia. Mas não quis aceitar uma relação entre as duas coisas.
Passados uns dias, outra vez me deparo com um lugar que promete opções sem carne, mas não cumpre. Comi carne de novo. As mesmas sensações contraditórias, a facilidade de ir ao banheiro, a barriga menos inchada. Já não era coincidência - mas não queria aceitar isso.
Enquanto pesquisava o motivo desta relação, me deparava com muitas questões envolvendo veganismo. As brigas eram severas. Motivos em defesa da carne eram tantos quantos os contra sua ingestão. Neste ponto, parei de pesquisar sobre comida e foquei em outra indústria: a cosmética.
O Brasil é um enorme consumidor de cosméticos. E a Anvisa é o órgão regulamentador da vigilância sobre estas indústria. Mas ela não exige testes em animais. As empresas que os fazem fazem porque querem. E há um projeto de lei que está querendo proibir esta prática. O que acho muito válido - afinal, temos opções, como testes em cultura celular e simulações.
A grande vilã nesta história tem localização conhecida: China. O país oriental exige testes em animais. E toda empresa que vende para o país precisa fazer os testes. Ou seja: se a empresa diz não fazer testes aqui no Brasil, mas vende para a China, ela faz testes. Simples. E neste rol estão empresas velhas conhecidas: Avon, Mary Kay, L´oreal.
Para os veganos, a situação é ainda mais complicada. Muitos cosméticos usam derivados animais, que são obtidos de sobras de indústria de corte de carne, de produção textil e de obtenção de mel. Achar substitutos é um desafio. As opções ficam restritas, e muitas vezes são mais caras que as convencionais. Fora que muitas se tornam difíceis de achar em qualquer loja. Mas elas existem, podem ser encontradas em algumas farmácias ou pela internet, e podem ser substituídas por opções caseiras.
Como eu quero abolir produtos testados em animais, comecei pelos cosméticos que tinha em casa e que gostava de usar. Me passou pela cabeça verificar se testavam - mas não verifiquei antes se vendiam na China. Adeus, creme Nívea! Fiz uma lista e fui já me preparando para as substituições futuras, quando os produtos acabassem. Afinal, jogar fora seria poluição gratuita.
O que?
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Marca?
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Testa em animais?
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Vegana?
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Alternativas?
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Sabonete
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Natura Ekos, Phebo
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não
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Sim. O Sabonete Odor de Rosas é referência em tudo quanto é pesquisa
que fiz.
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Creme para rosto
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Bio Oil, Micropeeling Abelha Rainha
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não
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Sim. O Bio Oil é versátil: serve para rosto, corpo e cabelos. Já o micropeeling segue em suspeita.
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Para o micropeeling, aceito sugestões.
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Limpeza facial e desodorante
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Leite de rosas
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não
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Sim. A maioria dos compostos é mineral, os que não são são vegetais
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Esfoliante corporal e facial
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Argila negra
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não
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Sim e não, toda argila é vegana. Eu compro em uma loja vegetariana
aqui de Curitiba. Misturo a chás e mel (mas daí deixa de ser vegana...)
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Creme dental
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Tandy (aham, de criança)
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Infelizmente sim. A Colgate testa.
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Não. Ainda não achei um substituto. Ia fazer minha própria pasta com
pó de juá, mas quem disse que acho?
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Procurar marcas veganas. O Condor tinha géis dentais veganos, mas não
sei se ainda tem.
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Absorvente
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Intimus – a única marca que não me deu alergia até hoje.
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Infelizmente sim. A Kimberly Clark testa.
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Não. Embora absorventes sejam feitos de algodão, não quero mais usar.
Preferia um coletor menstrual, mas pode dar alergia. Estou pesquisando.
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Usar paninhos laváveis; achar um coletor que não dê alergia. Ou fazer
o próprio, em algodão. Teve uma americana que fez e contou a experiência
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Maquiagem
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Abelha Rainha (sob suspeita), Boticário, Panvel (sob suspeita),
Jequiti
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Todas as empresas que falei não testam. Só que algumas não garantem
seus fornecedores
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Não. A maioria tem compostos animais, mas como faz muitos meses que
não compro maquiagem, pretendo comprar só veganas daqui em diante, quando
acabar as que tenho aqui. Exceto os batons Max love, (desculpa, mas eles são matte e são exatamente o que estava querendo a meses).
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Pesquisar mais marcas, fazer alguns em casa. Dependendo do que for, não é tão complicado assim. Cobrar as empresas para discriminar corretamente.
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Tinta de cabelo
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Embelleze Hene Pelúcia, Natucor Preto Azulado
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Não.
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Boa pergunta. Vou pesquisar.
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Depois que a Gio, a Suelen e a Sandila falaram do hene, fui pesquisar
sobre. Muitas amigas dos bichinhos recomendam Embelleze.
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Shampoo e condicionador
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Garnier, Phytoervas
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Sim. E não.
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Taí um problema. Só Garnier não me deu problemas de uso. Muitos me
recomendaram Bio Extratus, pretendo testar, bem como os da Granado. Phytoervas é legal, mas é chato de achar e bem mais caro do que estou podendo.
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Pesquisar mais marcas – fáceis de achar, porque não adianta escolher
uma marca difícil de encontrar – ou fazer em casa (onde encontro pó de
juá???). Tentar bicarbonato e vinagre de maçã
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Creme para pentear
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Garnier
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Sim.
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Outro problema. Já tentei Bio Oil, mas tem que lavar muitas vezes o
cabelo (e o meu não aguenta tudo isso).
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Tentar manteigas vegetais. Ando pesquisando e vou testar. Usar de
marcas já conhecidas tb vale.
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Esmaltes e cia
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Tenho tantos aqui que nem vou listar. Removedor a partir de agora só
Risqué ou Impala.
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Não.
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Eu pretendo não comprar mais esmalte até acabar com os que tenho. Daí
vou atrás de uma marca vegana.
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A Surya acaba de lançar!
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Como deu para perceber, não é tão complicado assim. Cobrar das empresas também está valendo: quanto mais se pergunta, mais a empresa se sente cobrada a respeito. E mais as empresas tomam posição. O que não significa que as empresas não fazem malandragem. A Mary Kay foi pega no pulo recentemente.
E enquanto vou achando soluções, vou lidando com o desconforto de ter de comer carne de vez em quando para a sensação estranha que me acomete passar. Chato. Muito chato.
Continua...